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13 dez 2024
Escola de Hotelaria e Turismo do Porto

Entrevista com antigo aluno da EHTP Joaquim de Sousa

1. Quando escolheu a EHTP, fê-lo porque sentiu ter uma vocação, ou por outra(s) razão(ões)? Como identificou essa vocação?

Senti uma vocação, pelo que sei hoje, por tudo o que é hospitalidade.

Na altura, deixei um curso superior de Línguas e Literaturas Modernas (Francês/Inglês) da Faculdade de Letras de Lisboa porque em boa hora, após uma noite de tertúlia numa residência universitária, onde estava alojado, fez-se luz.

No meio de um grupo de residentes, de vários cursos, e depois de dizer ao grupo que tudo mal no curso em que estava, e de elencar um chorrilho de coisas que gostava de fazer, um dos meus amigos presentes disse sem rodeios:

“- Vai para diretor de hotel” ao que eu respondi: “- Como assim?”

Disse-me que tinha um amigo que fazia exatamente o que eu gostava, e queria fazer profissionalmente, e que agora era diretor de hotel.

Neste momento fez-se luz. Passei o verão a estudar matemática para fazer os exames de acesso à EHTP. Entrei nesse ano 1987.

 

2. Quais os principais desafios que um profissional deve enfrentar sem hesitações?

Fazer o que é necessário para que a nossa equipa sinta que estamos ao lado dela.

Estudar e aprender tudo sobre os conhecimentos mais atuais, durante toda a vida. Transmitir conhecimentos testados para que todos nos sintamos valorizados. Fazer com que o cliente se sinta bem-vindo na nossa “casa”.

Cada vez mais, trabalhar em hotelaria é uma atividade com muito desgaste devido à intensidade do nosso dia a dia. Mas a resiliência e o amor à nossa profissão permitem-nos avançar. E no fim do dia, sentimos que marcamos a diferença quando o cliente nos sorri e diz que adorou ter passado tempo de qualidade connosco.

 

3. Qual foi o maior desafio da sua carreira? Porquê?

Gerir o “meu tempo” no meu dia-a-dia.

Porque sempre dei tudo o que tenho à minha profissão, e porque temos gosto pelo que fazemos, não olhamos ao tempo que passamos no trabalho para fazer o que queremos e desenvolver a nossa atividade, apoiando a nossa equipa e estando ao lado do cliente. Mas, por outro lado, temos uma família e amigos que querem parte do nosso tempo. E tem direito a isso. Assim temos de aprender desde cedo a gerir as várias áreas da nossa vida e o tempo que dedicamos a cada uma.

 

4. De que forma se destaca a sua organização? O que a torna única? (Qual é a vossa “unique selling proposition”?)

A HighGate Portugal destaca-se pela maneira como apoia os seus colaboradores. People First é o moto da empresa seja para o cliente externo seja para o cliente interno. Creio que o que a torna única é a capacidade de atrair bons talentos e saber valorizá-los. O Unique Selling Proposition é assim People First. A excelência do serviço e a sustentabilidade das nossas unidades continuam a ser o garante da qualidade das nossas unidades.

 

5. Por favor descreva, se possível, uma das cenas mais caricatas com a qual lidou ao longo da sua carreira.

Estava eu no Hotel Régua Douro e estava com a equipa de filmagens de um cineasta português. Na altura o diretor de fotografia estava muito mal-humorado e portou-se mal. Chegou mesmo a destruir mobiliário no átrio do hotel. A certa altura, e após ter reparado a fechadura do quarto dele várias vezes, disse que não voltaria a reparar mais a fechadura e deixaria a porta aberta.

Não se conformando com isso, a atriz principal veio fazer uma reclamação junto da Receção dizendo que não era aceitável que o senhor dormisse com a porta sem a fechadura a funcionar.

O dito diretor de fotografia, estava ao meu lado e começou a tentar falar comigo e a criticar-me em francês. Pensava que eu não estava a entender.

Com muita calma, eu expliquei à senhora que já tinha chegado ao limite do meu stock de fechaduras (porque ele já tinha arrombado a pontapé três vezes a fechadura da porta do quarto dele) e que eu não iria reparar a porta mais nenhuma vez. Era sábado e não havia nada aberto.

Como eu não estava a reagir aos insultos do dito diretor de fotografia, este agarrou-me pela gravata e começou a puxar. Nessa altura, com a minha mão direita, afastei a mão dele da minha gravata, e disse em francês: “excusez-moi!”.

De imediato afastei-me e dirigi-me para o meu escritório. Logo de seguida, pedi para chamar o diretor de produção ao meu escritório. Em 10 minutos, o dito realizador de fotografia teve de fazer as malas e procurar outro hotel por que não foi autorizado a continuar no hotel devido ao seu comportamento inaceitável.

Obviamente, ele queria criar uma disputa entre o diretor e ele por forma a criar um problema sério. Depois iria fazer uma reclamação colocando o diretor em sérios problemas se eu tivesse reagido com violência e essa provocação.

Nestas situações é preciso ter calma, perceber o que é que o cliente quer e agir, como neste caso, em sentido contrário e resolver com calma e com determinação.

 

6. Tem alguma lição de vida que gostasse de partilhar? Algo que o marcou profundamente e contribuiu para a sua transformação como pessoa ou como profissional.

Devemos ser sempre permeáveis a ajudar os outros sem que isso seja motivo para esperar algo de volta. Mas sempre que ajudei alguém, recebi muito de volta, mesmo que não tenha sido dessa mesma pessoa.

A vida passa rápido!

Sejam bons no que fazem! Aprendam e ensinem ao longo da vossa vida.

Sei que, ao fim de 32 anos de hotelaria, amo o que faço! Se não amasse, seria um desperdício grande de tempo.

 

7. Quais os seus planos futuros em termos profissionais?

Vou continuar a trabalhar em hotelaria e, sempre que possível, continuar a ser formador para transmitir conhecimentos profissionais e experiências de uma vida ao serviço da hotelaria.

 

8. Que conselhos deixa para os atuais alunos da EHTP e que em breve serão seus colegas?

Amem os vossos clientes, estejam atentos às vossas equipas, sejam profissionais exigentes, sejam parte da “família” do hotel onde trabalham. Não se esqueçam de arranjar tempo para estar ao lado da vossa família e amigos, tendo tempo para descansar.

 

9. Com que frase gostaria de terminar esta entrevista?

“Quem quer bolota, trepa!” - Joaquim de Sousa

 

Nota: entrevista artigo originalmente publicada na revista LOBBY Nº 03.

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