Turismo sem ecrã: o luxo de desconectar para se reconectar
Vivemos tempos em que o telemóvel se tornou uma extensão do corpo. Em cada visita turística, vemos mais ecrãs do que olhares atentos. O gesto de tirar uma fotografia tornou-se automático, quase um reflexo condicionado. Queremos eternizar tudo mas, paradoxalmente, estamos a esquecer de viver o momento que tentamos guardar. A nuvem é infinita, mas a nossa atenção não é.
O turismo, que sempre foi uma arte de descobrir o mundo, começa a ser substituído pela ansiedade de o registar. A cada clique, recebemos pequenas doses de dopamina aquele neurotransmissor do prazer instantâneo que nos faz sentir bem por segundos, mas nos prende a uma constante necessidade de estímulo. Essa busca incessante enfraquece a capacidade de contemplar, de silenciar e de realmente absorver o lugar em que estamos.
Um exemplo marcante está nos concertos. Já reparou como é incrível ver, em meio à escuridão, um mar de luzes vindas dos telemóveis? É bonito, mas também triste: vemos mais ecrãs do que rostos. O artista está ali, presente, a poucos metros, mas muitos o assistem apenas através das próprias gravações uma ironia do nosso tempo. Mesmo estando ali, optamos por ver o espetáculo através do ecrã.
No meio dessa saturação digital, surge um novo conceito: o detox turístico. Não como uma fuga, mas como um produto de experiência consciente. Imagine um roteiro onde o visitante é convidado a deixar o telemóvel de lado, a caminhar sem notificações, a ouvir o som real da cidade ou da natureza, a comer sem fotografar o prato, a sentir antes de partilhar. Essa seria uma nova forma de luxo o luxo do presente.
A Inteligência Artificial, paradoxalmente, pode ser nossa aliada nesse processo. Em vez de nos distrair, pode ajudar-nos a gerir o uso da tecnologia, a definir limites, a programar pausas digitais e até a criar experiências personalizadas que favoreçam o bem-estar mental. A IA não precisa ser um inimigo da presença pode ser a ferramenta que nos devolve o equilíbrio.
No fim, a verdadeira viagem é aquela que acontece dentro de nós, quando conseguimos estar totalmente presentes. O telemóvel é útil, mas não pode ser o nosso guia espiritual. Precisamos reaprender o valor do silêncio, do olhar e do toque. O turismo do futuro talvez não seja o mais conectado, mas o mais humano.
Viver o presente fora do digital pode ser o próximo grande destino.
autoria:
Adson Araújo de Santana
Alumni do Curso de Turismo Cultural e do Património